Como tem sido habitual às quintas, estou à conversa com a Carla Alegre na Rádio Concelho de Mafra, refletindo sobre os desafios para a saúde mental desta pandemia. Ontem refletimos sobre a reabertura na próxima segunda das creches/amas (crianças 0-3 anos) e escolas para alunos do 11º e 12º anos. É importante voltarmos a sair de casa e retornar a algumas rotinas, mas de uma forma diferente com novos comportamentos (de proteção colectiva) mas sem que estes impeçam a vida de ser vivida. Senão “não morremos da doença morremos da cura”.
As creches são uma resposta educativa que se substitui à família por razões de ordem prática. Mas não são depósitos de crianças. São espaços de experiências sociais e emocionais, que abrem os horizontes relacionais através da liberdade de expressão e brincadeira. Nessa liberdade da brincadeira e relação aprendem-se valores da partilha, empatia, compaixão, colaboração e estimula-se igualmente o desenvolvimento sensorial. Tudo isto é essencial ao seu desenvolvimento físico e psico-afectivo. A reabertura das creches nesta época de desconfinamento deve salvaguardar a proteção de todos, na sua máxima extensão sem colocar em causa o desenvolvimento infantil, sem colocar em causa a possibilidade das crianças serem crianças, na sua liberdade e necessidade de expressão. E isto é possível num ambiente seguro. Esse continente de segurança é promovido por quem delas cuida. Será seguro estar num espaço onde se a criança chorar vai ser sossegada e contida emocionalmente por alguém a 2 metros de distância? Que brinquem distanciadas e não se toquem? Que não partilhem brinquedos porque há perigo na partilha?

Há aqui um risco importante para a saúde mental das crianças e consequentemente para o seu desenvolvimento integral. Reflectimos ontem sobre a necessidade de nas creches e escolas se usar mais a rua, o ar livre. De sair da sala. A utilização dos espaços exteriores não só ajuda a diminuir a disseminação do vírus mas tem claramente benefícios para a saúde.
No inicio do século XX foram criadas as “open air schools” para prevenir e combater a crescente contaminação da tuberculose e que mantiveram-se ainda hoje em muitos países nórdicos devido às suas evidentes vantagens para o desenvolvimento infantil. Refletimos sobre a imaginação e criatividade das escolas e da necessidade do lúdico numa referência ao filme ” A Vida é Bela” em que uma realidade assustadora pode ser contida pelo adulto para proteção da criança. As crianças vão retornar a salas diferentes, com menos crianças, sem peluches, com setas no chão….isso pode ter por detrás um imaginário lúdico. A maior lavagem das mãos por exemplo pode ser passada como um jogo, ou mesmo para o 1º ciclo, a máscara associada a super heróis e que cada máscara é única e só dá poderes à sua criança, não podendo ser partilhada.

Saemos que há coisas que têm de mudar. Mas não só por causa do vírus, mas porque a escola precisa de evoluir e não se manter no mesmo registo em que foi criada na altura da revolução industrial. Na altura fundamental e necessária, mas numa lógica de transmissão massificada e tendo pouco em conta a individualidade da forma como se aprende. Os tempos pedem mudança. A comunidade educativa pede mudança.
Um registo mais participante e de co-construção das aprendizagens, estimulando o pensamento divergente e alimentando a criatividade e colaboração. Menos foco na rigidez programática e na cultura da nota/sucesso e mais foco na felicidade, no potencial humano, criatividade e colaboração. Penso que colaboração, cooperação e sustentabilidade são as palavras de ordem para esta vida Pós- Covid. Acredito que estamos à altura deste desafio
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