…..mas vai transformar o contexto em que ela se dá.
A psicoterapia é uma experiência relacional, encarnada, afetiva e intersubjetiva. A presença de um terapeuta humano implica:
- regulação emocional implícita (ex: co-regulação via tom de voz, respiração, microexpressões);
- empatia sentida e expressa corporalmente;
- improviso criativo e sentido clínico ajustado à singularidade de cada pessoa;
- uma matriz de vínculo que é, muitas vezes, a cura em si.
Nada disto pode ser inteiramente replicado por uma IA. Pode ser simulado — mas não vivido.
Parece-me que a IA vai substituir alguns formatos de “apoio psicológico leve” ou coaching padronizado.
- Chatbots terapêuticos (como o Woebot, Roomie, Wysa, Replika) já ajudam em intervenções breves, como psicoeducação, auto-regulação emocional e treinos cognitivo-comportamentais.
- Aplicações com IA podem ser úteis entre sessões, em casos ligeiros, ou para quem está em lista de espera.
- Algumas pessoas que evitam relações (por trauma ou neurodivergência) podem beneficiar de um primeiro contacto com uma IA como ponte para o contacto humano posterior.
- ou outras possibilidades…
Mas isto não é psicoterapia no sentido profundo, transformacional e relacional.
É aqui que os psicoterapeutas humanos se posicionam com clareza e ética, revelando o que é insubstituível: a presença viva e o encontro.
Se o mercado for dominado por soluções rápidas, baratas e escaláveis, há o risco real de banalização e “uberização” da psicoterapia e de desvalorizar o tempo e o processo terapêutico promovendo um consumo psicológico fast-food. A escuta é substituída por um algoritmo.
E se no futuro as IAs forem quase humanas?Mesmo que a IA atinja simulações cada vez mais realistas (com voz, corpo, expressões…), continuará a faltar-lhe o essencial:
A humanidade vivida no corpo e a vulnerabilidade partilhada.
Um terapeuta não oferece apenas técnicas — oferece a si próprio como ser humano atravessado por dor, amor, falha e busca. Isso é o que torna o vínculo terapêutico genuíno, curativo e transformador. Uma IA pode guiar, mas não partilhar o pulsar real de uma vida que conhece o medo, a perda, o amor e toda a palete de emoções e sentimentos.
Logo, a IA vai complementar, não substituir a psicoterapia. Vai mudar o cenário, obrigando-nos a reafirmar o valor do encontro humano e para quem tem alma de terapeuta, isto não é ameaça — é um convite a evoluir sem abdicar da essência.
“Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.” Carl Jung

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